Quero tragar-te para o sempre que durar.
J
31 de dezembro de 2010
30 de dezembro de 2010
Serra
Mas e quando as curvas não me forem o bastante,
E derrepente me esquecer de virar.
Abra as janelas para o vento,
Nada como voar.
É só uma viajem,
E a lei.
Alem.
........
.......
......
.....
....
...
..
.
e fim
enfim
J
E derrepente me esquecer de virar.
Abra as janelas para o vento,
Nada como voar.
É só uma viajem,
E a lei.
Alem.
........
.......
......
.....
....
...
..
.
e fim
enfim
J
O sangue chegara escorrendo as pernas, essas que a tempos não se encontram. Ela flutuou por entre os pisos até a sala segura. Suas roupas agora encharcadas lhe gelavam o corpo ainda quente. A menina tremia. O coração entupia os ouvidos, cortar. Livre agora, com os fios pelo chão. A dor, intensa, boa e familiar. Quem sabe, a cicatriz ficaria para sempre, e não precisaria ser refeita. Uma alegria infantil a tomou, com os cachos pelo chão, respirou atordoada. Seu ferro espalhado descendo pelo ralo, empossado. Nada alem de cortar as correntes.
J.
J.
29 de dezembro de 2010
complexo de tertulianas
prometi este post há um tempo, então lá vai...
Esta postagem se deve a uma carta. Não sei se é preciso dizer a quem é endereçada, mas quem a escreveu denominou-se Pierrot — de segunda.
O tal Pierrot faz uma análise que, segundo o próprio, chega a ser científica: era um certo escrutínio a respeito do comportamento peculiar de uma determinada pessoa (leia-se Pagu). Pierrot concluiu "através de estudos sociais" que Pagu "faz parte de uma nova e admirável leva de mulheres, colhendo os frutos plantados por quase um século de revoluções feministas internas ou externas". Deduziu ele que o amor desta "leva" é direcionado exclusivamente às amizades, à intelectualidade e à auto-preservação. Que a leva em si desligou-se completamente das premissas dos romantismos clássicos.
Além destas coisas, entre outras, Pierrot acabou por inferir que Pagu, assim como a Tertúlia, se basta e orienta as coisas para um certo alvo (cultural), além de "apreciar o sentimentalismo com olhar crítico, analítico. Não há mais loucuras por amor, mas uma visão intelectual e terciária do que está acontecendo. São mulheres que não se compadecem de pieguices (...)".
Além destas coisas, entre outras, Pierrot acabou por inferir que Pagu, assim como a Tertúlia, se basta e orienta as coisas para um certo alvo (cultural), além de "apreciar o sentimentalismo com olhar crítico, analítico. Não há mais loucuras por amor, mas uma visão intelectual e terciária do que está acontecendo. São mulheres que não se compadecem de pieguices (...)".
—
Sinto em informar-lhe, Pierrot, que embora tendo em muito acertado, está também, em muito, enganado — ainda que comparações com Simone de Beauvoir, Jane Austen, Clarice Lispector, e mesmo Joana D'Arc, soem muito lisonjeiras. Mesmo o feminismo não sendo uma de nossas causas, você fez uma lista de prioridades que chega a ser, de certa forma, apropriada, pois damos muito valor às amizades, à intelectualidade, mas apenas esporadicamente à auto-preservação, por assim dizer. Saiba que colocar a todas num grupo apenas pode homogeneizar a mistura, mas a degustação pode se tornar arenosa: não generalize como fez um de nossos amigos convencendo-se de que toda garota precisa, até certo ponto da vida, de um Johnny*. Esteja também dissuadido de usar receitas, pois, sendo quase imutáveis, elas são inúteis.
Nós, Tertulianas, vivemos, pensamos e nos alimentamos de arte. Entretanto, faltou-lhe saber que não há prioridade — não exata. Nossas prioridades são o toque inesperado, a palavra catatonizante, a cevada suada sobre a mesa, o vinho quente subindo à cabeça, a canção ao fundo, o trocar de cordas num local inapropriado, o "que vos esquente" de cada dia, a alva felicidade, as luzes da cidade e mesmo as sentimentalidades excessivas — as pieguices. Somos, simultaneamente, piegas e agressivas; inteligentes e alienadas, de certa maneira. Talvez intoleráveis e apaixonantes. Mas a prioridade acaba sendo, até inconscientemente, o agora — o ter que perdura —, a arte de nossa inconsistência, de nossa ventilação, de nossos neologismos, de nosso vocabulário particular e de executar e fazer jus ao nosso próprio nome: Tertúlia.
A respeito da auto-preservação, digo que poesia demais, música demais, felicidade demais, calor demais ou pieguice demais (ou de menos) podem fazer uma tertuliana explodir (num bom sentido). É fato. E a nossa busca ávida por todas essas coisas são tão descomedidas e desmesuradas que chegam, às vezes, a machucar. Às vezes. Talvez por isso sejamos, de certo modo, masoquistas. Mas esse descomedimento e essa desmesura talvez sejam partes de nossas células osmóticas, talvez façam parte de nosso poder de absorção, o que é uma característica da qual chegamos até a nos gabar para nós mesmas.
No fim das contas, Pierrot, o que importa é o equilíbrio dos corpos, almas e mentes. E nem ao menos temos a garantia de sua existência...
R.
*Sociável demais, boa pinta demais, perigoso demais.
Falante demais, tocante demais, divertido demais.
E apesar de quase agradável, desnecessário demais.
Falante demais, tocante demais, divertido demais.
E apesar de quase agradável, desnecessário demais.
26 de dezembro de 2010
Cena Única de Ato Múltiplo
Dois garotos num vagão do metrô. Entra o terceiro.
A1: E aí, véi? Cê viu o Capela hoje?
A3: Vi, ele tava aqui agora.
A2: Aqui? Cê fala aqui no metrô?
A3: É, mano.
A1: E tava com o moleque?
A3: Tava.
A2: Tava memo?
A3: Tava, carai! E tava usando maquiagem e pá.
A1: Maquiagem?
A2: Tipo, lápis e essas porra?
A3: É, pode crê.
A1: Viiish! Agora já era, mano...
A2: É. Já era memo, mano.
Acho que o Capela passou pro lado negro da força. Que seja bem vindo, então...
A1: E aí, véi? Cê viu o Capela hoje?
A3: Vi, ele tava aqui agora.
A2: Aqui? Cê fala aqui no metrô?
A3: É, mano.
A1: E tava com o moleque?
A3: Tava.
A2: Tava memo?
A3: Tava, carai! E tava usando maquiagem e pá.
A1: Maquiagem?
A2: Tipo, lápis e essas porra?
A3: É, pode crê.
A1: Viiish! Agora já era, mano...
A2: É. Já era memo, mano.
Acho que o Capela passou pro lado negro da força. Que seja bem vindo, então...
E eu me impressiono quando percebo coisas como a minha falta de coerência à luz do dia e a minha fala ligeira. Acho engraçado me ver andar quando bebo pouco e quando me visto de acordo. Me sinto extasiada quando não me pergunto: "Que diabos estou fazendo aqui?"
Não deveria: meu amigos substituem cup cake por cu de quem.
R.
Não deveria: meu amigos substituem cup cake por cu de quem.
R.
25 de dezembro de 2010
23 de dezembro de 2010
Almoço em 'familia'
X: - Mas esse peixe ta bom...
Y: - Eu sei, mas eu prefiro peixe frito, não assado.
J: - Eu prefiro peixe vivo... É uma questão de gosto.
M: - haha. Uma questão de estômago.
Y: - Eu sei, mas eu prefiro peixe frito, não assado.
J: - Eu prefiro peixe vivo... É uma questão de gosto.
M: - haha. Uma questão de estômago.
21 de dezembro de 2010
R: E havia aquele monte de passarinhos que foram simplesmente doados depois que meu tio morreu. Ele tinha muitos pássaros. Adorava aqueles pássaros.
D: E por que você não os soltou?
R: Eles morreriam, com certeza.
D: Bem, é verdade. Mas pelos menos morreriam livres.
R: Morrer livre pode ser poético, mas, às vezes, é também cruel.
D: E por que você não os soltou?
R: Eles morreriam, com certeza.
D: Bem, é verdade. Mas pelos menos morreriam livres.
R: Morrer livre pode ser poético, mas, às vezes, é também cruel.
Eu, eu mesma, e Bukowski
Eu, como todos, sempre tive um ponto forte. Porém, o meu era rejeitado pela sociedade e descabido moralmente: O meu ponto forte era a fraqueza. Francamente, deslizava para o fundo do copo. Não, não está errado. Realemente quis dizer copo, não poço. Nele tinha a vantagem de que, quanto mais esvaziasse, menos lembraria o porquê de tudo aquilo. O que deve se levar em conta também, é que não é possível cair dentro de um, o máximo,é com um. Agora, a certeza de que não vou me afogar, já nao é inteira. De certo poderia regurgitar ou gorfar tudo uma hora ou outra, quando bêbado. E isso é quase se afogar. Mais um ponto positivo, é que você escolhe seu próprio sabor. Mias doce, mais amargo, mais apaixonante, mais puro. Tenho boas (e más) lembranças de meu ponto forte/fraco, no caso. Muitas mulheres, apaixonantes, da rotina, que vão e vem à tona, são algumas delas. Olhos roxos, brigas de bar, tudo me contradizendo e dizendo: Me paga mais um drinque?
( N.A: Vontade de escrever como um velho safado.)
Caju
( N.A: Vontade de escrever como um velho safado.)
Caju
Vejo o mundo pelos olhos de outra pessoa. Coloco os óculos de grau, alheios, de um rosto amigo. Meus próprios olhos pareciam mais duas almas perdidas, dentro do aquário inaquático. Enxergo assim pessoas a mais, meias barbas, embaçado contínuo. Fico o maior tempo possível focando nas plantas mortas, no meio da natureza viva. Adubo natural pro meu terreno. Senti o calafrio da realidade, vista notóriamente por meio da corrente gelada de vento, que me deixa vesga, vendo o próprio nariz. Olhar pra dentro não foi possível, estava tudo um breu, daqueles em que não se tem nem uma vela, nem um fósforo. E se tivesse, a chuva teria apagado.
Caju
Caju
19 de dezembro de 2010
18 de dezembro de 2010
No direction home
Trechos do DVD do Bob Dylan; meu menino.
"Eu pensava em sair pelo mundo, encontrar uma jornada de retorno para algum lugar. Tentava encontrar aquele lar que deixei há muito tempo e não conseguia lembrar exatamente onde era, mas eu estava a caminho. E depois de tudo com que me deparei, percebi tudo. Eu não tinha nenhuma ambição. Nasci muito distante de onde eu deveria estar, então, estou voltando pra casa."
"Tempo... Pode-se fazer muitas coisas para que o tempo pareça parar, mas, é claro, e você sabe disso, ninguém consegue pará-lo"
"Era tão frio que não podia ser mais. O clima equilibra tudo com muita rapidez."
"Foi o som que me influenciou. Não era propriamente quem, era o som em si."
P.
"Eu pensava em sair pelo mundo, encontrar uma jornada de retorno para algum lugar. Tentava encontrar aquele lar que deixei há muito tempo e não conseguia lembrar exatamente onde era, mas eu estava a caminho. E depois de tudo com que me deparei, percebi tudo. Eu não tinha nenhuma ambição. Nasci muito distante de onde eu deveria estar, então, estou voltando pra casa."
"Tempo... Pode-se fazer muitas coisas para que o tempo pareça parar, mas, é claro, e você sabe disso, ninguém consegue pará-lo"
"Era tão frio que não podia ser mais. O clima equilibra tudo com muita rapidez."
"Foi o som que me influenciou. Não era propriamente quem, era o som em si."
P.
14 de dezembro de 2010
Percebi
A chuva não era demais
O caminho não era longo demais
A ladeira não era íngrime demais
As pessoas não eram irritantes demais
Meu fone que tava quebrado.
j
agora com trilha sonora
O caminho não era longo demais
A ladeira não era íngrime demais
As pessoas não eram irritantes demais
Meu fone que tava quebrado.
j
agora com trilha sonora
13 de dezembro de 2010
' Vinne diz:
meu, vc escreve muito bem
vc descobriu virgulas onde nenhuma outra mulher ousou colocar
rsrs
herinnering . diz:
HAHAHA
obrigada *-*
deve ser pq vc nunca leu Clarice Lispector
' Vinne diz:
é verdade, eu nunca li
mas eu conheço alguém que leu e gostou muito
mas eu duvido que ela saiba usar uma virgula igual a você
quando eu te vejo eu falo
"Ali vai a menina que sabe o lugar das vírgulas nesse Brasil"
meu, vc escreve muito bem
vc descobriu virgulas onde nenhuma outra mulher ousou colocar
rsrs
herinnering . diz:
HAHAHA
obrigada *-*
deve ser pq vc nunca leu Clarice Lispector
' Vinne diz:
é verdade, eu nunca li
mas eu conheço alguém que leu e gostou muito
mas eu duvido que ela saiba usar uma virgula igual a você
quando eu te vejo eu falo
"Ali vai a menina que sabe o lugar das vírgulas nesse Brasil"
(Tudo bem, Clarice é meio Ucraniana, mas foi lisonjeiro...)
she wants a ride on...
Um bar, alguns amigos, alguns otários e algumas cervejas. Ela estava a devanear sobre coisa alguma, simplesmente porque "segurar vela", como dizem, é, muitas vezes, desagradável. Sua amiga com o otário da cantada do isqueiro, sua prima com uma menina não muito interessante; nada mais a fazer: foi logo ao banheiro.
Estendeu, com a maior paciência, alvas fileiras brilhantes para logo depois sentir, à sua maneira, uma a uma desvanescendo-se, mas extinguindo-se, pois adentravam um novo corpo, uma nova traqueia, uma nova narina. Nova por algum tempo, o que, em alguns meses, não seria.
Caju saiu do banheiro cambaleando, melhor do que nunca. Um dos amigos interrompeu um dos beijos:
— Caju, precisa de algo?
— Não — respondeu Caju, sabendo que em breve suas reminiscências e seus segredos estariam a salvo, compartilhados com os amigos azedos. — Não preciso de nada.
R.
Estendeu, com a maior paciência, alvas fileiras brilhantes para logo depois sentir, à sua maneira, uma a uma desvanescendo-se, mas extinguindo-se, pois adentravam um novo corpo, uma nova traqueia, uma nova narina. Nova por algum tempo, o que, em alguns meses, não seria.
Caju saiu do banheiro cambaleando, melhor do que nunca. Um dos amigos interrompeu um dos beijos:
— Caju, precisa de algo?
— Não — respondeu Caju, sabendo que em breve suas reminiscências e seus segredos estariam a salvo, compartilhados com os amigos azedos. — Não preciso de nada.
R.
R. & P. se amam; ...
Apenas e apenas porque conversas entre P. e R. nas altas e duras horas rendem algumas confissões, viagens, bixisses e, principalmente, pitadas de incompreensão saudáveies à todo (e qualquer) ser que quer humano.
"Que?"
"É".
Como pode uma pedra viva causar suspeitos por oferecer mais uma dose (R pensa: "Mais uma dose? É claro que eu tô a fim)? Que mal há nisso?
Nisso nada, mas juntar três tampinhas numa garrafa só, ou no máximo duas, apesar de fazer um bem danado e ser leve, é proibido a alguém que preze a própria vida, só a própria...
-
Uma pergunta despenca e um anúncio bonito com flash e cheiro de tinta, com toda a onipotência do mundo, surge.
A pergunta tinha a ver com negatividade, mas Pagu descobre que é amor, que é o que é, podendo inflar, periodicamente, os inferiores. Sua pele também tinha olhares grudados.
O anúncio surge presenteando com 2 cubos de frio na barriga. "Obrigada; até pareçe"
-
Pausa fixa e pesada.
-
R - A última palavra é sempre dele...
P - Genial, convincente, impotência.
R - eu sempre ' falo demais por não ter nada a dizer '...
São paralisantes.
P- São...
-
E algo relacionado ao maldito/por/maldito poderia ocupar a admiração principal de R., naquele ambiente enquadrado.
Não importa o quanto seja uma piada do destino ou da vida; o proprietário, é GENIAL!
-
Mas ainda não descobrimos se o deslumbramento é amor à vida ou fraqueza e ingenuidade, sabemos que depende.
-
P - Eu não descreveria o abstrato assim, deixaria estar, abstrato... Ele não, é além-pagu, é perturbadoramente minucioso.
R - Entendo completamente.
P - Inédito! Me entender completamente.
R - Tudo bem: quase completamente.
Você nem está completa , como posso entender-lher completamente ?
Mas eu tento, arduamente, mais que muita coisa; você é um dos meus quebra-cabeças prediletos.
P - Porque quer entender, há coisas que surgem sem nos pedir permissão de compreensão, apenas ficam incompreensíveis nos rodeando.
Ok, FOCO!
R - O que quis dizer, é que o que foge da minha compreensão é o que você se identifica; por isso sinto tanta falta, e o que vai além-pagu, é extremamente próximo do que eu quero dizer, sempre...
Espero nunca entender você completamente , pra que você seja uma peça faltando do quebra cabeça , porque é uma coisa que me tortura , mas é a melhor tortura que já senti : tentar te entender por completo... É impossível .
P - Você não é de toda compreensível também.
R - O incompreensível é fascinante... O que compreendemos, acabamos por esquecer... Menos você. Escrevo, presunçosamente, em 4 formas humanas, por isso flutuo...
-
Ainda bem que R. adora meus fracassos.
R. & P. se amam; ...
"Que?"
"É".
Como pode uma pedra viva causar suspeitos por oferecer mais uma dose (R pensa: "Mais uma dose? É claro que eu tô a fim)? Que mal há nisso?
Nisso nada, mas juntar três tampinhas numa garrafa só, ou no máximo duas, apesar de fazer um bem danado e ser leve, é proibido a alguém que preze a própria vida, só a própria...
-
Uma pergunta despenca e um anúncio bonito com flash e cheiro de tinta, com toda a onipotência do mundo, surge.
A pergunta tinha a ver com negatividade, mas Pagu descobre que é amor, que é o que é, podendo inflar, periodicamente, os inferiores. Sua pele também tinha olhares grudados.
O anúncio surge presenteando com 2 cubos de frio na barriga. "Obrigada; até pareçe"
-
Pausa fixa e pesada.
-
R - A última palavra é sempre dele...
P - Genial, convincente, impotência.
R - eu sempre ' falo demais por não ter nada a dizer '...
São paralisantes.
P- São...
-
E algo relacionado ao maldito/por/maldito poderia ocupar a admiração principal de R., naquele ambiente enquadrado.
Não importa o quanto seja uma piada do destino ou da vida; o proprietário, é GENIAL!
-
Mas ainda não descobrimos se o deslumbramento é amor à vida ou fraqueza e ingenuidade, sabemos que depende.
-
P - Eu não descreveria o abstrato assim, deixaria estar, abstrato... Ele não, é além-pagu, é perturbadoramente minucioso.
R - Entendo completamente.
P - Inédito! Me entender completamente.
R - Tudo bem: quase completamente.
Você nem está completa , como posso entender-lher completamente ?
Mas eu tento, arduamente, mais que muita coisa; você é um dos meus quebra-cabeças prediletos.
P - Porque quer entender, há coisas que surgem sem nos pedir permissão de compreensão, apenas ficam incompreensíveis nos rodeando.
Ok, FOCO!
R - O que quis dizer, é que o que foge da minha compreensão é o que você se identifica; por isso sinto tanta falta, e o que vai além-pagu, é extremamente próximo do que eu quero dizer, sempre...
Espero nunca entender você completamente , pra que você seja uma peça faltando do quebra cabeça , porque é uma coisa que me tortura , mas é a melhor tortura que já senti : tentar te entender por completo... É impossível .
P - Você não é de toda compreensível também.
R - O incompreensível é fascinante... O que compreendemos, acabamos por esquecer... Menos você. Escrevo, presunçosamente, em 4 formas humanas, por isso flutuo...
-
Ainda bem que R. adora meus fracassos.
R. & P. se amam; ...
12 de dezembro de 2010
Deedee,
Adoro ver você fazer pose de sono e, principalmente, quando você dorme no meio dos copos descartáveis de cerveja.
Você faz falta,
R.
Você faz falta,
R.
what sarah said, death cab for cutie (to jackie)
And it came to me then that every plan
Is a tiny prayer to father time
As I stared at my shoes in the ICU
That reeked of piss and 409
And I rationed my breaths as I said to myself
That I'd already taken too much today
As each descending peak on the LCD
Took you a little farther away from me
Away from me
Is a tiny prayer to father time
As I stared at my shoes in the ICU
That reeked of piss and 409
And I rationed my breaths as I said to myself
That I'd already taken too much today
As each descending peak on the LCD
Took you a little farther away from me
Away from me
Amongst the vending machines and year-old magazines
In a place where we only say goodbye
It stung like a violent wind that our memories depend
On a faulty camera in our minds
And I knew that you were the truth I would rather lose
Than to have never lain beside at all
And I looked around at all the eyes on the ground
As the TV entertained itself
In a place where we only say goodbye
It stung like a violent wind that our memories depend
On a faulty camera in our minds
And I knew that you were the truth I would rather lose
Than to have never lain beside at all
And I looked around at all the eyes on the ground
As the TV entertained itself
Cause there's no comfort in the waiting room
Just nervous pacers bracing for bad news
And then the nurse comes round and everyone lift their heads
But I'm thinking of what Sarah said
That love is watching someone die
Just nervous pacers bracing for bad news
And then the nurse comes round and everyone lift their heads
But I'm thinking of what Sarah said
That love is watching someone die
So who's gonna watch you die?
R.
your heart is an empty room, death cab for cutie
Burn it down till the embers smoke on the ground
And start new when your heart is an empty room
With walls of the deepest blue
And start new when your heart is an empty room
With walls of the deepest blue
Fall fades how it ages when you're away
Spring blooms and you find the love that's true
But you don't know what now to do
Cause the chase is all you know
And she stopped running months ago
Spring blooms and you find the love that's true
But you don't know what now to do
Cause the chase is all you know
And she stopped running months ago
And all you see is where else you could be
When you're at home and out on the street
Are so many possibilities to not be alone
When you're at home and out on the street
Are so many possibilities to not be alone
The flames and smoke climbed out of every window
And disappeared with everything that you held dear
And you shed not a single tear for the things that you didn't need
Cause you knew you were finally free
And disappeared with everything that you held dear
And you shed not a single tear for the things that you didn't need
Cause you knew you were finally free
Cause all you see is where else you could be
When you're at home and out on the street
Are so many possibilities to not be alone
When you're at home and out on the street
Are so many possibilities to not be alone
R.
remember, remember...
As portas do boteco todas abertas e a brisa tênue da noite davam a todos a liberdade para fumar beber água álcool. Os becos davam um ar de amanhecer próximo do qual todos fugiriam para debaixo do lençóis o bar mais próximo assim que se acabassem o suor das garrafas, dos copos e risos caídos, o sóbrio e a aguardente. A banda estava prestes a começar quando todas chegaram cheias de abraços de cupcakes de sede e umas das outras.
Chegava gente e mais gente e mais. Chegaram então conhecidos; um conhecido, sempre vítima de pensamentos e lascas romanas, e o outro, até ali, vítima do anonimato.
Apresentações, muito prazer, olá, boa noite, como vai; G. chega a T.
— T, é ele?
— Sim, é ele.
G. então é toda apneustia e pequenez a encarar o chão de olhos arregalados, de descrença arregalada, de vida murcha, culpa e avidez. G. então é toda o não inominado.
R.
Chegava gente e mais gente e mais. Chegaram então conhecidos; um conhecido, sempre vítima de pensamentos e lascas romanas, e o outro, até ali, vítima do anonimato.
Apresentações, muito prazer, olá, boa noite, como vai; G. chega a T.
— T, é ele?
— Sim, é ele.
G. então é toda apneustia e pequenez a encarar o chão de olhos arregalados, de descrença arregalada, de vida murcha, culpa e avidez. G. então é toda o não inominado.
...the 10th of December.
R.
9 de dezembro de 2010
8 de dezembro de 2010
7 de dezembro de 2010
MK Ultra, Black Rebel Motorcycle Club
Agradecimentos a Mito pela dica que roubei em blog alheio
sobre como postar videos.
R.
6 de dezembro de 2010
— Você é uma otimista patológica.
— Você é patológico.
— Ah, meu Deus. Por que vocês não transam e acabam logo com isso?
.
— Ele é estranho, relaxado, um pesadelo para as mulheres. Como ainda não transei com ele?
— Você é patológico.
— Ah, meu Deus. Por que vocês não transam e acabam logo com isso?
.
— Ele é estranho, relaxado, um pesadelo para as mulheres. Como ainda não transei com ele?
Trechos de Caindo Na Real, com Winona Ryder,
que R viu por insônia e falta do que fazer.
Revele o que sentiu quando eu o adiei. Um segredo de auto retrato. A árvore que se escondia das flechas. As épocas que marcaram seus sonhos. As noites que você ajudou a fugir. A lâmpada que nunca ascendeu. A guerra que tardou. O animal que te compreendeu. O conselho que não quis ser aceito. As plantações que não colheu. O livro que comprou por estar velho. O aparelho que devolveu tua batida. O código que te revelou. O poço que ainda procura. A gravata que não sai do bolso. Porque rejeitou a penumbra. O buraco envelhecido que martelou. O solo que terminou. O abrigo que esqueceu. O auto falante que estourou. A sujeira que espantou. O grito desnutrido. O ante braço marcado. A garrafa desonrada. O que não foi de ninguém. O sonhos que acordaram. O chamado que só ecoou na sala com ovos. O que todo mundo tem. A agulha que não voltou. A carona que deu ao peixe. O pingente que foi pra longe. A língua que nunca mais molhou.
P.
P.
5 de dezembro de 2010
O estranho natal de Jackie
Minha mãe toda feliz me arrumou enfeites novos para a árvore:
Cabeças penduradas.
O que mais poderia ser?
4 de dezembro de 2010
3 de dezembro de 2010
"— Qual é o parasita mais resistente?
Uma bactéria? Um vírus? Um verme intestinal?
— Hm, o que o Sr. Cobb quer dizer é que...
— Uma ideia. Resistente. Altamente contagiosa. Uma vez que uma ideia se apossa do cérebro, é quase impossível erradicá-la. Uma ideia completamente formada, completamente compreendida, permanece"
— Hm, o que o Sr. Cobb quer dizer é que...
— Uma ideia. Resistente. Altamente contagiosa. Uma vez que uma ideia se apossa do cérebro, é quase impossível erradicá-la. Uma ideia completamente formada, completamente compreendida, permanece"
Quote from Inception
2 de dezembro de 2010
like twisted souls
— Aquele puto me chamou de "serelepe" — falei. As garrafas vazias espalhadas pela mesa, minha cabeça girando.
— Serelepe? — Mary perguntou quase ininteligivelmente.
— É, serelepe. Caxinguelê, buliçosa. E ele é tão capcioso que até agora eu não consegui descobrir se estava sendo sarcástico ou não.
— Sério? — Mary riu. — Logo você, a pessoa mais sarcástica que eu conheço, com essa dúvida cruel... Acho que isso foi puro sarcasmo. Você não é serelepe, Ida. É uma bêbada desiludida.
— Obrigada, Mary — respondi sarcasticamente, como ela esperava.
— Não vou pedir desculpas. Nós dizemos, somos a verdade; você não se ofende comigo. Gary é seu professor de Filosofia. Ele também é um bêbado desiludido. E sarcástico, como você.
— Concordo plenamente! — bradei. Acho que logo após fiz um escândalo falando a respeito das filha-da-putices de Gary e as minhas últimas notas baixíssimas na faculdade e fomos expulsas do bar. Lembro de pouca coisa depois disso. Pouco me importava... O que importava é que eu achei a fechadura dessa vez, porque da última, dormi no hall da escada.
Está precisando de um conselho? Não faça filosofia. Perdi meu emprego e ninguém me ama, ninguém me quer. Vida de filósofo é uma vida fodida. Acredite, filósofos sofrem muito mais — a verdade não só dói, ela tortura.
Abri a porta de dei de cara com o milhar de cartas — cartas, não, cobranças, em sua maioria — que chegavam todos os dias. Com muito esforço, consegui ler a ordem de despejo que havia chegado naquela manhã. Pronto. Me fodi legal.
Bati na porta cinquenta vezes. Lógico, cinquenta, não, porque eu estava bêbada, mas bati várias vezes. Acho que Louie demorou porque deviam ser umas três da manhã.
— Ida? O que houve? — Louie e sua olheiras atenderam a porta.
— Louie, eu acabei de receber um aviso e... Eu sei... Eu sei... Louie, eles vão me despejar assim que a manhã chegar e eu sei que estou sempre tão bêbada quanto se pode estar... Mas eu me pergunto, sabe... Será que você não tem espaço pra mim?
— Louie? — uma voz feminina chamou de dentro.
— Louie? — chamei do lado de fora. Louie continuou a olhar para mim, e eu a olhar para ele, cambaleando como se estivesse sobre um monociclo, as lágrimas querendo vazão e eu prendendo-as para sempre — Me desculpe. Não sabia que... Eu não sabia. Me desculpe. Eu vou... embora.
— Ida?
— Sim? — perguntei. E eu, que havia prendido as lágrimas para sempre, deixei que rolassem sem escrúpulos.
— Eu também.
— Hã?
— Também estou bêbado. Também amo você — Louie pegou minha mão. — Tenho todo o espaço pra você aqui. Vem. É só a TV.
— Serelepe? — Mary perguntou quase ininteligivelmente.
— É, serelepe. Caxinguelê, buliçosa. E ele é tão capcioso que até agora eu não consegui descobrir se estava sendo sarcástico ou não.
— Sério? — Mary riu. — Logo você, a pessoa mais sarcástica que eu conheço, com essa dúvida cruel... Acho que isso foi puro sarcasmo. Você não é serelepe, Ida. É uma bêbada desiludida.
— Obrigada, Mary — respondi sarcasticamente, como ela esperava.
— Não vou pedir desculpas. Nós dizemos, somos a verdade; você não se ofende comigo. Gary é seu professor de Filosofia. Ele também é um bêbado desiludido. E sarcástico, como você.
— Concordo plenamente! — bradei. Acho que logo após fiz um escândalo falando a respeito das filha-da-putices de Gary e as minhas últimas notas baixíssimas na faculdade e fomos expulsas do bar. Lembro de pouca coisa depois disso. Pouco me importava... O que importava é que eu achei a fechadura dessa vez, porque da última, dormi no hall da escada.
Está precisando de um conselho? Não faça filosofia. Perdi meu emprego e ninguém me ama, ninguém me quer. Vida de filósofo é uma vida fodida. Acredite, filósofos sofrem muito mais — a verdade não só dói, ela tortura.
Abri a porta de dei de cara com o milhar de cartas — cartas, não, cobranças, em sua maioria — que chegavam todos os dias. Com muito esforço, consegui ler a ordem de despejo que havia chegado naquela manhã. Pronto. Me fodi legal.
Bati na porta cinquenta vezes. Lógico, cinquenta, não, porque eu estava bêbada, mas bati várias vezes. Acho que Louie demorou porque deviam ser umas três da manhã.
— Ida? O que houve? — Louie e sua olheiras atenderam a porta.
— Louie, eu acabei de receber um aviso e... Eu sei... Eu sei... Louie, eles vão me despejar assim que a manhã chegar e eu sei que estou sempre tão bêbada quanto se pode estar... Mas eu me pergunto, sabe... Será que você não tem espaço pra mim?
— Louie? — uma voz feminina chamou de dentro.
— Louie? — chamei do lado de fora. Louie continuou a olhar para mim, e eu a olhar para ele, cambaleando como se estivesse sobre um monociclo, as lágrimas querendo vazão e eu prendendo-as para sempre — Me desculpe. Não sabia que... Eu não sabia. Me desculpe. Eu vou... embora.
— Ida?
— Sim? — perguntei. E eu, que havia prendido as lágrimas para sempre, deixei que rolassem sem escrúpulos.
— Eu também.
— Hã?
— Também estou bêbado. Também amo você — Louie pegou minha mão. — Tenho todo o espaço pra você aqui. Vem. É só a TV.
Uma visão que R. teve ao ouvir Louie, da Ida Maria.
Ficou uma bosta, mas foi o que R. viu.
¼ ping-pong
Semana de Moda de Paris
ou
Semana de Arte Moderna?
Para R. a resposta é fácil: a semana de moda em Paris — o tempo não volta.
Além disso, haverá tomates à mão sempre que preciso.
Lílitchka!
EM LUGAR DE UMA CARTA
"Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto -
um capítulo do inferno de Krutchônikh.
Recorda -
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração - aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu "hall" escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
- duro fardo por certo -
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatinho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos - rodopiante carnaval -
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa."
26 de maio de 1916
MAIAKÓVSKI, Vladímir.
Poesia Russa Moderna
p
"Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto -
um capítulo do inferno de Krutchônikh.
Recorda -
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração - aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu "hall" escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
- duro fardo por certo -
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatinho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos - rodopiante carnaval -
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa."
26 de maio de 1916
MAIAKÓVSKI, Vladímir.
Poesia Russa Moderna
p
1 de dezembro de 2010
(...)
Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
"A Morte do Leiteiro", Carlos Drummond de Andrade, A Rosa do povo, 1945
Ei, você,
a escola estava afundando nossos melhores dias na lama.
Ou talvez eu mesma estivesse fazendo isso.
Pardon, ces't la vie. Ou moi.
R.
Ou talvez eu mesma estivesse fazendo isso.
Pardon, ces't la vie. Ou moi.
R.
Realizei
Às vezes canso da vida privada.
Entretanto, não tenho a audácia necessária para abrir mão dela.
Ainda possuo (ou penso que costumava possuir, antes deste cenário que agora o encara, eventual leitor) a auto-suficiência necessária para agarrar-me às reservas e particularidades.
Talvez seja esse meu mal.
Talvez seja esse meu abrigo.
R.
Entretanto, não tenho a audácia necessária para abrir mão dela.
Ainda possuo (ou penso que costumava possuir, antes deste cenário que agora o encara, eventual leitor) a auto-suficiência necessária para agarrar-me às reservas e particularidades.
Talvez seja esse meu mal.
Talvez seja esse meu abrigo.
PS: Ambiguidade é uma de minhas especialidades.
R.
Do filme “Paris, je t’aime”.
Esse foi um dos curtas que eu não compreendi minha pós-reação.
-
A cena começa com Thomas, que é cego, estudando, e o telefone toca:
"- Oui?
- Thomas, escuta.
- Francine.
- Escuta... As vezes a vida exige uma mudança. Uma transição. Como as estações. Nossa primavera foi maravilhosa, mas o verão acabou e deixamos passar nosso outono. E agora, de repente, faz frio, tanto frio que está tudo congelado. Nosso amor dormiu, e a neve o tomou de surpresa. E se algo dorme na neve, não sente a morte chegar. Se cuida."
Ele desliga, pasmo, em transe, e num flashback, relembra como se conheceram:
Thomas anda numa rua típica de Paris e ouve numa casa próxima...
“ -Me deixe sair!”
(Thomas narra)
Francine... Eu me lembro perfeitamente. Era 15 de maio. A primavera tardava em chegar e se formavam nuvens de chuva. E você gritava...
Ele se aproxima da janela aberta onde Francine gritava:
“- Bruno, por favor! Não aguento mais você!
- Olá? Estou ouvindo. Quem é Bruno?
- Estou ensaiando, não percebe?
- Não, desculpe.
- Não, ME desculpe.
Diz ela se dando conta de que Thomas não conseguia vê-la de fato.
- É atriz?
- Estou tentando. Hoje tenho uma apresentação.
- No Conservatório?
- Sim
- Que tipo de cena foi essa?
- É de um filme em que atuei, meu único até agora. Sou uma prostituta que é golpeada e violentada por seu gigolô, e ele a tranca em uma cela escura todo o dia e ela fica louca, mas no final, eles se casam.
O sino toca, e ela debruça na janela, assustada.
- Um gigolô e uma prostituta?
- Merda! São 10:00? Tenho que estar lá às 10:00.
- Conheço um atalho, vamos.
- Espera!
E ela pula da janela para acompanhá-lo.
- Por aqui.
Corriam.
- Está certo?
- Tudo certo.
Chegam rapidamente no Conservatório, por um atalho que Thomas conhecia.
- Isso foi rápido. Obrigada.
- Boa sorte. "
Diz ele fazendo um gesto com as mãos passando nela como se fosse um sensor.
...
Francine faz o teste para o filme.
(Thomas narra)
"E claro, aceitaram. Deixar Boston e se mudar a Paris. Um pequeno apartamento em uma rua de Saint-Denis. Mostrei a ela meu bairro, meus bares, minha escola. Apresentei meus amigos, meus pais. Escutei-a enquanto ensaiava. Suas canções, suas esperanças, seus desejos, sua música, e você escutou a minha. Meu italiano, meu alemão, meu russo. Te dei um walkman, e você uma almofada. E um dia, ela me beijou. O tempo passou, o tempo voou e tudo parecia tão fácil, tão simples, livre, tão novo e único. Fomos ao cinema. Fomos dançar. Fazer compras. Nós rimos. Você chorou. Nadamos, fumamos. Nos machucamos. De vez em quando, você gritava. Sem razão. Às vezes com razão. Sim, as vezes com razão.
Te acompanhei até o conservatório. Estudei para minhas provas. Escutei suas canções, suas esperanças, seus desejos. Escutei sua música, e você escutou a minha. Estávamos unidos, tão unidos, cada vez mais unidos. Fomos ao cinema. Fomos nadar. Nós riamos juntos. Você gritava. Às vezes com razão, e às vezes sem razão. O tempo passou, o tempo voou. Te acompanhei até o conservatório. Estudei para minhas provas. Me escutou falar em italiano, alemão, russo e francês. Estudei para minhas provas. Você gritava, às vezes com razão. O tempo passou, sem razão. Você gritava. Sem razão. Estudei para minhas provas. Provas, provas... O tempo passou. Você gritava. Gritava, gritava... Fui ao cinema."
Thomas aparece sozinho numa sala de cinema, assistindo ao filme que Francine atua, na qual ela grita e chora na sala escura onde está trancafiada... E ele chora “junto” a ela...
"- Me perdoe, Francine. "
...
A cena volta ao ponto de partida, o telefone toca de novo e ele atende...
“- Oui?
- Que foi? De repente caiu. Você desligou? É tão mal assim? Thomas, continua chateado com Dayer?
- Não...
- Então me diga, você acredita nele? Ah... estou vendo. Merda, não funciona assim? Como posso dizer: “Nossa primavera foi maravilhosa, mas o verão terminou”, sem que pareça tão melodramático? O diretor gosta, tenho que encontrar uma forma. Está me ouvindo?
Novamente faz o gesto/sensor, só que dessa vez, em direção e ele mesmo.
- Não...Estou vendo você.”
E sorri.
P.
Assinar:
Postagens (Atom)