12 de setembro de 2010

Os Três Últimos Dias de Fernando Pessoa - Um delírio

(...)Prosérpina me quer em seu reino, está na hora de partir, é hora de deixar esse teatro de imagens que chamamos de nossa vida. Se soubesse as coisas que vi com os óculos da alma, vi os contrafortes de Órion, lá no alto no espaço infinito, andei com estes pés terrenos pelo Cruzeiro do Sul, atravessei noites infinitas como um cometa reluzente, os espaços interestelares da imaginação, a volúpia e o medo, e fui homem, mulher, velho, menina, fui a multidão dos grandes bulevares das capitais do Ocidente, do qual invejamos a calma e a sabedoria, fui eu mesmo e os outros, todos os outros que podia ser, conheci honras e desonras, entusiasmos e desânimos, atravessei rios e montanhas inacessíveis, olhei rebanhos plácidos e recebi na cabeça o sol e a chuva, fui fêmea no cio, fui o gato que brinca pela rua, fui sol e lua, e tudo porque a vida não basta(...)

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