26 de junho de 2010

"[...]Gostaria que me dissesse sinceramente se Catarina sofreria muito se perdesse o marido. É êste temor que me retém. E com isso, veja a senhora a diferença que existe entre nossos sentimentos: estivesse êle em meu lugar e eu no dêle, embora o odeie com um ódio que me envenenou tôda a vida, jamais levantaria a mão contra êle. A senhora pode mostrar cara de quem não acredita, se quiser! Eu nunca o teria banido do convívio de Catarina, enquanto ela mostrasse desejo por êle. No momento, porém, em que seu interesse por êle cessasse, eu lhe arrancaria o coração e lhe beberia o sangue! Mas até aí... se não me acredita é porque não me conhece... até aí eu iria morrendo lentamente, antes de tocar num só fio de cabelo de sua cabeça!"



"— Agora, meu rapazola, és meu! E haveremos de ver se uma árvore não cresce tão torta quanto outra, se é o mesmo vento que as curva!"



"[...]O interlocutor começou a ler. Era um rapaz convenientemente trajado e sentado à mesa, com um livro à sua frente. Suas belas feições brilhavam de prazer e seus olhos mal se continham, que não abandonassem a página que liam, para se fixarem sôbre uma mãozinha branca apoiada em seu ombro, que o chamava à ordem com um tapa camarada na bochecha, cada vez que êle dava sinais de desatenção. A dona daquela mão se conservava por trás dêle. Suas madeixas leves e sedosas se misturavam por vêzes aos cabelos negros do discípulo, quando ela se inclinava para vigiar-lhe o trabalho. E o rosto dela... Ainda bem que êle não o via, porque doutra forma não poderia jamais prestar atenção alguma à lição. Eu, porém, podia vê-la e mordia os lábios, despeitado, pensando que havia deixado passar a oportunidade de fazer alguma coisa mais que contemplar sua risonha beleza."

O Morro Dos Ventos Uivantes, Brontë, Emily.

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