"Trombaram comigo. Tinha certeza de que era um homem — doeu. Mas homens não usam saias, nem têm coxas lisas e macias.
— Ah, é você — disse.
— Você tá bem? — ela perguntou. Acho que reparou na minha mão que esfregava o braço dolorido. Ela era feita de que? Aço?
— Estou ótimo — respondi. Que outras mentiras eu poderia inventar? — E você?
— Bem... — ela respondeu, meio sem vontade. Ou talvez também fosse mentira. Uma mentira que cheirava a Mont Blanc e estava quebrando meus quinze centímetros de espaço limite. Ela estava perto. Perto. Demais. — Achei que não fosse falar comigo hoje.
— Eu não ia.
— Não? — a garota vincou a testa.
— Não... Quero dizer, sim. É... Sim. Eu ia. Mas acho que não tenho nada de interessante pra dizer.
— E você ia fazer o que? — ela zombou. — Ensaiar primeiro?
— Talvez. Não sei — eu disse. Ela riu da minha cara. Riu da minha cara de novo.
— Comente sobre o tempo — ela sugeriu. — Todo mundo faz isso.
— Uma das muitas coisas das quais sou incapaz é ser igual a todo mundo. Mas eu posso tentar. Está nublado hoje, não?
Ela riu mais uma vez. Talvez porque fizesse um sol de trinta e seis graus naquele dia. Eu não podia com aquela ausência de méssel pugle.
— Quer saber? — ela perguntou; lá se foram mais cinco centímetros — Quem se importa?
— Todo mundo.
— Não somos todo mundo — ela disse. — Felizmente, não somos.
Então não havia mais centímetro nenhum."
R.
8 de junho de 2010
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