16 de junho de 2010

Panis et circences

Outro dia voltava para casa com minha mãe. Por acaso era dia de jogo do Brasil.
É incrível a confiança que todo o povo tem no futebol, é como se os problemas fossem substituidos por urras e olas durante os quarenta e cinco minutos de cada tempo. Na rua todos pareciam animais defendendo sua cria com barulhos ensurdecedores. De longe pareciam abelhas zunindo uniformemente.
Início do primeiro tempo. Silêncio.
É assustador não ouvir a cidade, andar pelos bairros vazios (exceto quando se dá de cara com um bar e um telão),estranho poder tocar a massa poluente que envolve seu pescoço te asfixiando cada dia mais, sentir soprando no rosto os minutos longos passando, ter os olhos fechados e ainda assim é como se estivessem abertos.
Susto. Fogos. A cidade volta a ecoar palavras distintas caminhando para fora de bocas estranhas. Pessoas se abraçam, pulam, ajoelham-se. Foi gol.
De repente senti um repentino aperto no peito pela goleada brasileira. Não simpatizo muito com competições, sempre tem alguém que deixa cair uma lágrima dolorida. Podem dizer por ai que sou antipatriota, e questionar o porquê de agir assim, sentir assim. Não tento me justificar, porém explico: A questão não é quem está jogando contra quem, e sim é que alguém tem que perder para um outro ganhar.
Saltaram lágrimas dos meus olhos no momento em que a câmera focalizou o rosto doído do goleiro do time adversário. Deixei escorrerem.
Dado o momento, a insatisfação bateu como se com pedras entre os dedos. O motivo? Talvez saber que há completa cegueira por trás de um evento como esse. Me sangrou o coração e veio a minha mente o seguinte pensamento:
Sou brasileira, amo me país, porém não me orgulho da república falida na qual nos tornamos; Utopio o dia em que pelo menos metade do Estado brasileiro saiba por quem votar, saiba ponderar a política e dar valor a tal da "coisa pública" que é em teoria.
Enquanto isso vou cantando e observando de longe o inferno verde e amarelo.

Caju

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