9 de fevereiro de 2011

hoje não dá

— Puta, será que vai chover?
Não havia necessidade de perguntar, e ele sabia — as espirais negras lá no alto, lá longe, não deixariam a desejar; sim, ia chover.
— Como é? — perguntou-lhe uma voz langorosa de moça.
— Pois não? — perguntou-lhe o moço.
— O que você disse? — a moça insistiu, mas com tão pouco fervor que a resposta que esperava parecia irrelevante.
— Eu? Bem, estava me perguntando se vai chover — respondeu o moço, curioso; a havia finalmente tocado com os olhos. Parecia cansada; encarava com um cigarro pendendo do canto da boca as janelas do edifício do outro lado da rua esperando, como o moço, que o farol abrisse logo de uma vez. Isso antes que ele tivesse aberto a boca.
— Você disse “Puta, será que vai chover?”
— Acho que sim... Ah! — ele se deu conta. — Eu não estava falando com você. É a força do hábito.
— Hm... Desculpe meu egocentrismo, então — a moça disse. O moço a olhou mais uma vez. As cinzas do cigarro estavam caindo sobre seu seio direito, que estava só um pouco à mostra, o tom de sua pele combinava com aquele horário e com as sardas em seus ombros. Não usava maquilagem. Em menos de quinze segundos, como constatou o moço, era possível desejá-la com fervor. — Não olhe demais, neném — aconselhou a moça, apesar de não parecer realmente importar-se. — Estou no meu dia de folga.


R.

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