29 de dezembro de 2010

complexo de tertulianas

prometi este post há um tempo, então lá vai...

Esta postagem se deve a uma carta. Não sei se é preciso dizer a quem é endereçada, mas quem a escreveu denominou-se Pierrot — de segunda.

O tal Pierrot faz uma análise que, segundo o próprio, chega a ser científica: era um certo escrutínio a respeito do comportamento peculiar de uma determinada pessoa (leia-se Pagu). Pierrot concluiu "através de estudos sociais" que Pagu "faz parte de uma nova e admirável leva de mulheres, colhendo os frutos plantados por quase um século de revoluções feministas internas ou externas". Deduziu ele que o amor desta "leva" é direcionado exclusivamente às amizades, à intelectualidade e à auto-preservação. Que a leva em si desligou-se completamente das premissas dos romantismos clássicos.


Além destas coisas, entre outras, Pierrot acabou por inferir que Pagu, assim como a Tertúlia, se basta e orienta as coisas para um certo alvo (cultural), além de "apreciar o sentimentalismo com olhar crítico, analítico. Não há mais loucuras por amor, mas uma visão intelectual e terciária do que está acontecendo. São mulheres que não se compadecem de pieguices (...)".



Sinto em informar-lhe, Pierrot, que embora tendo em muito acertado, está também, em muito, enganado — ainda que comparações com Simone de Beauvoir, Jane Austen, Clarice Lispector, e mesmo Joana D'Arc, soem muito lisonjeiras. Mesmo o feminismo não sendo uma de nossas causas, você fez uma lista de prioridades que chega a ser, de certa forma, apropriada, pois damos muito valor às amizades, à intelectualidade, mas apenas esporadicamente à auto-preservação, por assim dizer. Saiba que colocar a todas num grupo apenas pode homogeneizar a mistura, mas a degustação pode se tornar arenosa: não generalize como fez um de nossos amigos convencendo-se de que toda garota precisa, até certo ponto da vida, de um Johnny*. Esteja também dissuadido de usar receitas, pois, sendo quase imutáveis, elas são inúteis.

Nós, Tertulianas, vivemos, pensamos e nos alimentamos de arte. Entretanto, faltou-lhe saber que não há prioridade — não exata. Nossas prioridades são o toque inesperado, a palavra catatonizante, a cevada suada sobre a mesa, o vinho quente subindo à cabeça, a canção ao fundo, o trocar de cordas num local inapropriado, o "que vos esquente" de cada dia, a alva felicidade, as luzes da cidade e mesmo as sentimentalidades excessivas — as pieguices. Somos, simultaneamente, piegas e agressivas; inteligentes e alienadas, de certa maneira. Talvez intoleráveis e apaixonantes. Mas a prioridade acaba sendo, até inconscientemente, o agorao ter que perdura —, a arte de nossa inconsistência, de nossa ventilação, de nossos neologismos, de nosso vocabulário particular e de executar e fazer jus ao nosso próprio nome: Tertúlia.

A respeito da auto-preservação, digo que poesia demais, música demais, felicidade demais, calor demais ou pieguice demais (ou de menos) podem fazer uma tertuliana explodir (num bom sentido). É fato. E a nossa busca ávida por todas essas coisas são tão descomedidas e desmesuradas que chegam, às vezes, a machucar. Às vezes. Talvez por isso sejamos, de certo modo, masoquistas. Mas esse descomedimento e essa desmesura talvez sejam partes de nossas células osmóticas, talvez façam parte de nosso poder de absorção, o que é uma característica da qual chegamos até a nos gabar para nós mesmas.

No fim das contas, Pierrot, o que importa é o equilíbrio dos corpos, almas e mentes. E nem ao menos temos a garantia de sua existência...

R.


*Sociável demais, boa pinta demais, perigoso demais.
Falante demais, tocante demais, divertido demais.
E apesar de quase agradável, desnecessário demais.

2 comentários:

  1. Comecei um novo negócio!

    Ando vendendo sonhos em forma de poesia.
    Para te-los, só terá que vive-los.
    Mas (s)em demasia.

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  2. Amostra Gratis!

    Sonho de um amor (des)iludido

    Um Beijo seu,
    morre o eu
    Só sobra nós,
    sempre a sós
    No labirinto,
    só sinto.

    Amor.

    Tristeza.

    Dor.

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