1 de dezembro de 2010

Do filme “Paris, je t’aime”. 

Esse foi um dos curtas que eu não compreendi minha pós-reação.
-
A cena começa com Thomas, que é cego, estudando, e o telefone toca:

"- Oui?
- Thomas, escuta.
- Francine.
- Escuta... As vezes a vida exige uma mudança. Uma transição. Como as estações. Nossa primavera foi maravilhosa, mas o verão acabou e deixamos passar nosso outono. E agora, de repente, faz frio, tanto frio que está tudo congelado. Nosso amor dormiu, e a neve o tomou de surpresa. E se algo dorme na neve, não sente a morte chegar. Se cuida."

Ele desliga, pasmo, em transe, e num flashback, relembra como se conheceram:

Thomas anda numa rua típica de Paris e ouve numa casa próxima...

“ -Me deixe sair!” 

(Thomas narra)
Francine... Eu me lembro perfeitamente.  Era 15 de maio. A primavera tardava em chegar e se formavam nuvens de chuva. E você gritava... 

Ele se aproxima da janela aberta onde Francine gritava:

“- Bruno, por favor! Não aguento mais você!
- Olá? Estou ouvindo. Quem é Bruno?
- Estou ensaiando, não percebe?
- Não, desculpe.
- Não, ME desculpe. 

Diz ela se dando conta de que Thomas não conseguia vê-la de fato.

- É atriz?
- Estou tentando. Hoje tenho uma apresentação.
- No Conservatório?
- Sim
- Que tipo de cena foi essa?
- É de um filme em que atuei, meu único até agora. Sou uma prostituta que é golpeada e violentada por seu gigolô, e ele a tranca em uma cela escura todo o dia e ela fica louca, mas no final, eles se casam. 

O sino toca, e ela debruça na janela, assustada.

- Um gigolô e uma prostituta?
- Merda! São 10:00? Tenho que estar lá às 10:00.
- Conheço um atalho, vamos.
- Espera!

E ela pula da janela para acompanhá-lo.

- Por aqui.

Corriam.

- Está certo?
- Tudo certo.

Chegam rapidamente no Conservatório, por um atalho que Thomas conhecia.

- Isso foi rápido. Obrigada.
- Boa sorte. "

Diz ele fazendo um gesto com as mãos passando nela como se fosse um sensor.
...
Francine faz o teste para o filme.

(Thomas narra)
"E claro, aceitaram. Deixar Boston e se mudar a Paris. Um pequeno apartamento em uma rua de Saint-Denis. Mostrei a ela meu bairro, meus bares, minha escola. Apresentei meus amigos, meus pais. Escutei-a enquanto ensaiava. Suas canções, suas esperanças, seus desejos, sua música, e você escutou a minha. Meu italiano, meu alemão, meu russo. Te dei um walkman, e você uma almofada. E um dia, ela me beijou. O tempo passou, o tempo voou e tudo parecia tão fácil, tão simples, livre, tão novo e único. Fomos ao cinema. Fomos dançar. Fazer compras. Nós rimos. Você chorou. Nadamos, fumamos. Nos machucamos. De vez em quando, você gritava. Sem razão. Às vezes com razão. Sim, as vezes com razão.
Te acompanhei até o conservatório. Estudei para minhas provas. Escutei suas canções, suas esperanças, seus desejos. Escutei sua música, e você escutou a minha. Estávamos unidos, tão unidos, cada vez mais unidos. Fomos ao cinema. Fomos nadar. Nós riamos juntos. Você gritava. Às vezes com razão, e às vezes sem razão. O tempo passou, o tempo voou. Te acompanhei até o conservatório. Estudei para minhas provas. Me escutou falar em italiano, alemão, russo e francês. Estudei para minhas provas. Você gritava, às vezes com razão.  O tempo passou, sem razão. Você gritava. Sem razão. Estudei para minhas provas. Provas, provas... O tempo passou. Você gritava. Gritava, gritava... Fui ao cinema."

Thomas aparece sozinho numa sala de cinema, assistindo ao filme que Francine atua, na qual ela grita e chora na sala escura onde está trancafiada... E ele chora “junto” a ela...

"- Me perdoe, Francine. "
...
A cena volta ao ponto de partida, o telefone toca de novo e ele atende...

“- Oui?
- Que foi? De repente caiu. Você desligou? É tão mal assim? Thomas, continua chateado com Dayer?
- Não...
- Então me diga, você acredita nele? Ah... estou vendo. Merda, não funciona assim? Como posso dizer: “Nossa primavera foi maravilhosa, mas o verão terminou”,  sem que pareça tão melodramático? O diretor gosta, tenho que encontrar uma forma. Está me ouvindo?
Novamente faz o gesto/sensor, só que dessa vez, em direção e ele mesmo.
- Não...Estou vendo você.”

E sorri.



P.

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