29 de novembro de 2010

just another brick in the wall

   Daqui a algumas horas haverá uma apresentação de Projeto em nossa escola (nossa, a não ser por Pagu, que estuda em outro colégio). Essa apresentação é um evento escolar — a merda já começa aí — e visa obter maior prestígio pelo visual que pelo conteúdo do "show"; ela acontecerá em nossa escola, com atividades de todas as séries.
   Logicamente, há um tema para o Projeto, que esse ano é "Resgatando Valores", e prefiro não comentar sobre isso. O sub-tema da sala do terceiro ano do ensino médio é "Relações Humanas".
   Antes de qualquer outra coisa, é importante ressaltar que essa disciplina, Projeto, foi utilizada para substituir Psicologia, Filosofia e Sociologia — por isso eu já a odeio. Nós não aprendemos nada sobre Hobbes, nem Freud, nem Nietzche, nem Freyre, nem Wundt e nem ao menos sobre Platão. Portanto, o que posso dizer sobre as aulas que tive sobre "Relações Humanas" em Projeto é que a maioria delas foi infrutífera, principalmente por eu ter ouvido coisas sobre as quais já sabia. Não, não era minha intenção ser arrogante nesse aspecto, mas, sim, eu já sabia que algumas pessoas se comportam de maneira infantil, já sabia que (segundo alguns liberais-conservadores) é preciso inteligência emocional no trabalho e, principalmente, já sabia o suficiente sobre mim mesma para ter certeza de que não precisava fazer testes que me dizem que, se ando olhando para o chão, é porque sou uma pessoa retraída. A professora que nos deu essa matéria não parece ter percebido que, além do amor, inteligência e amizade, nas relações das quais ela queria falar vinham intrínsecos a estupidez, o preconceito, a vaidade, entre outros, deixando as aulas insossas. Bem, insossas para mim, já que o resto da sala não parece dar a mínima.
   Após todo esse discurso, tenho apenas algumas observações a fazer:

   Como geralmente se sabe, cada classe possui um slide show, produzido pelos alunos, e Caju deu a ideia de usarmos "Another Brick In The Wall", do Pink Floyd, no final da apresentação. No caso, ela representaria a opinião própria dos alunos, visto que a letra da música expressa abertamente o descontentamento com o sistema repressor da escola — afinal, como diria Pagu, "a escola é o orgasmo da degradação humana" e nela não se aprende muito além de ser quem não se é.
   A princípio, achei que a música destoaria, mas concordei. Já hoje, nos ensaios, descobri reverências e sincronias que não deviam estar lá, e percebi que foi distorcido, deformado, tudo o que poderíamos dizer. Toda aquela história de "deixem as crianças em paz" acabou, perdeu o sentido. Vi todos agindo como iguais, como se espera, como se deve, reverenciando depois de mostrar imponência, recuando depois de mostrar altivez, todos na coreografia criada para a canção que não se poder coreografar.


Exatamente como tijolos na parede.

R.

3 comentários:

  1. O que seria da vida humana sem os scripts?
    a escola reproduz o sistema fétido, não como uma conspiração, mas como uma continuidade das mentes programadas pelo "certo x errado" que a mídia introduz... é uma forma de manter todos sentados enquento o maioral dita as regras.
    Não seriam proibidas de mostrar a real nessa apresentação, mas seriam mal recebidas e taxadas de "revoltosas" por todos os cantos dessa prisão conteudista.
    Sabe, esses projetinhos (sim, projetinhos) existem por puro planejamento deles, pois acham bonito assim como pais tb achariam demais ver os filhos encenando uma peça de natal , fazendo ridicularidades em conjunto. Nâo querem seus conteúdos; querem "criar condições", como dizem, pra socialibilização entre os alunos: isso é humano pra eles, mas perceba, como pensar que eles pensem diferente se estão vedados? O que espera deles além de ditar (de ditadura mesmo)regras? O que eles pensam que são? Vocês e eles? Qual a distância traçada? O que é que eles querem com isso tudo?
    Pq dão tanta importância a essas coisas deportantes?
    É pq estão envolvidas, eu sei... infelizmente é duro estar no meio de tudo isso.. Haja paciência pra esperar o fim. E está acabando!
    Sorte.

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  2. R.,

    Não sei se serve de consolo, mas, onde trabalho, uma professora de Filosofia afirmou que Positivismo era o tipo de pensamento que presava o indivíduo otimista.
    Assim, é melhor nem ter aula de Filosofia.

    P.S.: Sei que não é um consolo, só citei o caso por ser tragicamente/perversamente divertido.

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  3. nihil,

    Tudo isso se resume ao maior clichê da tertúlia:

    ces't la vie. La fucking vie.

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