12 de novembro de 2010

Soneto de Montevidéu

Não te rias e mim, que minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.

Não te esqueças de mim, que desvendaste
A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.

Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me
Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda

Ao amante dulcíssimo que fiz-me
À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.

Montevidéu, 1959
Vinícius de Morais

2 comentários:

  1. Além da beleza do poema, há uma rima que é muito bonita e incomum (alguém diria que gostar de rimas é ultrapassado): "lágrimas"/ "mais e mais".

    ResponderExcluir