22 de agosto de 2010

Scrimping Daylight

É mais difícil escrever durante o dia.

Hoje, acordei num certo horário que alguns diriam que é cedo. Acordar às dez aos domingos é cedo? Dependendo do ponto de vista, talvez. Eu quase nunca tenho o que fazer aos domingos. Correção: eu quase nunca tenho o que fazer de interessante aos domingos. Parcas são as opções; posso almoçar com os integrantes de uma árvore genealógica que não é minha de verdade e desfrutar de um gosto musical alheio lamentável; posso passar o dia com minha cópia original até descobrir que sou, na verdade, uma cópia muito mal feita e que, de cópia, não temos nada; posso talvez arranjar algo bom para assistir, mas eu sempre alugo tantos filmes de uma vez que, no fim, acabo ficando sem ter o que apreciar — cansei de Hollywood.
Depois de acordar relativamente cedo num domingo, comi umas torradas, fiz meu café e decidi vir para cá, um lugar tão confortável, na maioria das vezes. Acendi meu cigarro, abri meu documentos digitais e, eventualmente, descobri (mais uma vez) que a luz me atrapalha.
Sem a escuridão, fica mais difícil ver o contraste das coisas, ao contrário do que diz a lógica — lógica nunca foi muito do meu forte. À noite, a escuridão leva embora o sentimento de isolamento que me sufoca pela manhã. À noite, minha necessidade de estar conectada com o resto do mundo desaparece mais completamente. À noite, eu enxergo melhor o que durante o dia eu não sou capaz de ao menos pensar com lucidez. À noite, é mais fácil simplesmente ser, enquanto na matina é muito mais fácil ver e, como de costume geral e humano, criticar, apontar, censurar. À noite, que mais importa senão a presença, o calor, as palavras, o toque, ou whatever? Que mais importa senão o ser e simplesmente ser? A claridade é incômoda, proibidora. É previsível demais.

R.
"É onde eu fico à vontade
Sem medo da claridade
Passo o dia inteiro esperando a noite chegar
Porque não há mais nada que eu queira fazer"
No escuro, Priscila
PS: E nesse meu devaneio, me esqueci completamente de que algum motherfucker inventou o holofote. Tristemente, a completa escuridão já não existe mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário