17 de agosto de 2010

Sensações II

Parece que já sentiu tudo, mas é déjà vu.
Parece que não é comum ser tão assim, mas é só porque você vai passar a usufruir mais da própria companhia (acredite, nem sempre é tão agradável assim).
Parece que a vida é bem mais simples, mas não é. Essa sensação é um truque dos coca-ditadores — não acredite ou confie em nada.
Parece que o tempo passa rápido, mas é pura sorte. Você vai entender quando apenas uma hora tiver se passado quando você poderia jurar que foram três.
Parece que a noite não é suficiente, e não é mesmo. Os minutos livres do dia transformam-se em meros segundos (insuficientes) à noite.
Parece que dormir ao invés de ir ao colégio faz uma enorme diferença, entretanto, depende do dia. E se o sono, a ida e a volta são tempo perdido, é porque está faltando algo — e você sabe bem o que é.
Parece que elas ficaram estupidamente distantes, e ainda que o sentimento seja estúpido, ele é azedo o bastante.
Parece que o telefone não tocou nunca mais, mas, no fundo, é porque você não estava em casa para atendê-lo e, à noite, o ócio e a lassidão falam mais alto nos pulmões delas.
Parece que o único livro que está lendo é por conta disso — é também. Mas piora: você pode perder a vontade de preencher o tempo com palavras alheias.
Parece que só se passou um dia, e, de fato, foi só um. Mas ainda há muitos por vir.
Parece que vai estar sempre frio, mas, se quando o frio passar, você continuar a tremer, há remédio. Ele tem nome: Tertúlia. Nessa hora, ignore a distância, porque distância, mesmo sendo real e azeda, não é tamanho.
Parece que o sol aparece às vezes, mas a mim ele não tem aquecido. E a você?
Parece que você ganhou 50 pontos, e isso parece ótimo, mas eu não sei de que pontos nem de que raça você está falando...
Parece que você lida bem com esse novo afazer, então continue assim — você vai precisar dessa boa vontade em breve.
Parece que você só pensa na recompensa, então persista nisso. Se não for por ela, o esforço não é válido. Na verdade, ele não será válido nunca: você está cooperando com o sistema. Mas é assim que se começa; no futuro haverá algo mais gratificante e rebelde para você fazer, mas, por enquanto, enquanto as estações não mudam e você sabe que há algo por acontecer, continue cooperando com o sistema.
Parece que o tempo era mais válido e que aquele lugar que você tanto gostava agora está diferente porque agora eles estão distantes, intocáveis, porque você agora não os tem à mão.
Parece que você não sabe mais o que é aproveitar o tempo, e por isso inventa, e é tudo culpa do tempo que você, na verdade, não tem.
Parece que os sushis estão sozinhos porque você não tem mais com quem dividi-los. Quanto a mim, divido menos, porque agora sou eu quem paga por eles (estou ficando meio "mão de vaca").
Parece que, na verdade, você é quem está só. Sei o que é isso, eu também estou. É tudo o que posso dizer. Mas, se puder notar, quando alguém diz "eu também", ele está te fazendo companhia — ignore outra vez a distância.

R. (de mim mesma e mais nada)

PS: Será que você, Pagu, entende por que motivos eu entendo você?

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