8 de outubro de 2010

Como Se Comportar

Graças a Bob Esponja, e ao despertador que eu não ouvi, não fui àquela porra, quero dizer, àquela escola hoje. Graças a Bob Esponja, porque ainda não consegui entender o motivo de eu ter de saber o que é telecinética e dácrons e Rh- e toda aquela merda, quero dizer, aquela... coisa.

Mas até aí, tudo normal, considerando que o normal é desprezível.

O foda é: ainda está por vir o meretrício de cada dia.

É depois das duas da tarde — porque depois das duas da tarde eu sou escraviária, quero dizer, estagiária — que eu começo a me perguntar que porra de mundinho é esse. Que porra de sisteminha barato é esse aqui. Que porra é essa?

Até agora não achei nenhuma resposta que pudesse me convencer de que há males que vêm pra bem. Não, não. Não engulo essa. Há males que vêm pra foder com a sua vida mesmo. O problema real é que eu estou começando a ficar um pouco confusa...

Eu nasci. Aí veio todo mundo me ensinar o que é ser educado, o que é ser profissional. O que é ser humilde, compreensivo, generoso. Paciente, tolerante, correto. O que é ser Moral.

À puta que pariu com a moral.

Não, não precisam me desculpar por isso. À puta que pariu mesmo. Não pedi desculpas porque existem, com essa tal de moral, duas opções (o que é pouco para os seres tão complexos que fazem ou não uso dela).

Opção 1: você usa a moral. Aí você compreende e tolera. Você coopera, ajuda e usa de toda a sua boa educação. Você aceita as convenções (na linguagem vulgar, que se refere a tudo geralmente admitido, aceito) que lhe são enfiadas goela adentro com prazer e usa delas para ser alguém de boa conduta, alguém com etiqueta, profissional. Ingenuamente, você ainda espera que outros façam o mesmo. Por eles mesmos e por você. E é bem aí, nesse exato momento de excesso de credulidade, de carência de malícia, que você vira um grande otário.

Opção 2: você ignora a moral. Aí você passa a acreditar nos próprios princípios — aqueles criados por você, não os herdados (de uns otários, devo acrescentar). Você faz as coisas de acordo com seus preceitos: compreende e tolera menos frequentemente, coopera menos arduamente, ajuda quando lhe apraz e usa da sua boa educação quando acha que deve, mantendo apenas o respeito, que é essencial, certo? Errado. Porque, ingenuamente, você ainda espera que esteja tudo ok. Afinal, ser você mesmo não é assim tão terrível. É um detalhe ínfimo — diferenças, o que há de tão violento nelas? E é bem aí, nesse exato momento de carência de credulidade (nos outros), de excesso de malícia (para os outros), que você vira um grande sacana (também para os outros).

Às vezes, e só às vezes, prefiro a Opção 1 — ela me salva de certas discussões desnecessárias com pessoas ainda mais desnecessárias, pessoas-refugo. Num determinado espaço de tempo, escolho a Opção 2, porque "bonzinho só se fode" e ser moral cansa — executar esse papel é muito exaustivo. Já no resto desse tempo, fico completamente dividida, e acho essa dúvida cruel e estupidamente ridícula.

Que porra é essa?

R.

"Diz pra mim pra mim
O que é ser correto
O que é ser ruim
O que é ser sincero
O que é se conhecer
O que é obedecer
.
Só quero meu sossego
Mas escuto o mundo inteiro dizer
Não, não
Não, não, não
[...]
Sabe lá o que é se comportar
Sabe lá o que é saber medir
Sabe lá o que é saber frear
Saber se controlar
Saber se reprimir
Eu não sei*
[...]
Te peço um pouco de silêncio agora
Bota aquele disco que a gente adora
Só quero meu sossego
Mas escuto o mundo inteiro dizer
Não, não
Não, não, não"
.
Moptop
.
*Infelizmente, eu sei.

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