9 de outubro de 2010

E ela disse...

"ainda é cedo".
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Sabe, isso é tão estranho. Estamos na mesma frequência (dizem que isso é física, mas não sei se pefriro acreditar nisso ou na nossa falsa magia).
Esse autoexílio seu só veio a calhar (ou não) pra você. Mas, caso lhe interesse saber, eu havia pensando nisso esses dias. Apenas as razões eram diferentes.
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Às vezes a gente precisa se certificar que ainda está lá dentro, dentro da gente, então vem a ideia do autoexílio.
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De primeira, parece genial. A misantropia pode ser uma prevenção ou apenas uma experiência a mais, uma curiosidade. Prevenção porque pode-se ser pego de surpresa pela solidão, e aí as coisas podem ficar um pouco desorientadoras. Mas também é, de certa maneira, patético achar que a solidão é horripilante. Não é. Afinal, ela é a única acolhedora quando ninguém mais pode lhe suportar.
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Tem também essa da curiosidade: "Ah, vou ficar um pouco sozinho pra ver por quanto tempo eu consigo me aguentar, o que é que eu vou fazer sem ter alguém me olhando, o que é que eu vou pensar ser tem alguém falando. Ditando, mesmo sem querer". E além disso, se você considerar o tipo de gente que o está rodeando há um tempo, não importa quão insuportável você pode ser pra si mesmo, às vezes é melhor ficar só mesmo. Não no meu caso, é claro.
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Admito que, ao cogitar meu autoexílio, um dos meus eus, o mais sincero, me apontou o dedo no meio da cara e me fez enxergar: era pura birra. Não sei bem porquê. Acho que tem a ver com a atenção, com as ligações perdidas, com a displicência que nenhuma aqui pode negar. Bem, poder, pode. Mas não dá pra esconder nada de si mesmo, dá? Esse desapego, no fim, não tem nada de terrível. Ele só me desorienta; eu preciso aprender muitas coisas.
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No fim eu entendi tudo. Eu estava querendo me bastar de novo, porque me surpreendi. Eu não pude ver tão prontamente a necessidade que havia crescido aqui dentro, de fininho, de ter vocês por perto. E às vezes eu acho que eu me sinto mais assim que qualquer uma, pois, apesar de sociável (não por opção, mas por convenção — o que é muito pior) eu não tenho uma vida social. Ou tenho, mas ela é relativa. Eu apenas tenho uma vida e ela fica insossa sem meu saleiro e meu limões.
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Eu estava também tentando ser meio fodinha, tentando fazer outros pensarem que não preciso de ninguém, ou querendo chamar atenção. Eu sei, é ridículo, mas sou eu, e o que posso fazer a respeito? Não posso fazer nada além de repensar algumas atitudes, mas isso também nem é tão louvável. A gente precisa se ver e ser visto como é. Isso me faz muita falta; me ver e ser vista como sou está ficando raro e isso é muito desagradável. É cruel. Percebo que minhas habilidades na dramaturgia vêm crescendo e, apesar de úteis, elas podem ser detestáveis.
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A conclusão à qual cheguei é: não é necessário se isolar pra se conhecer melhor, basta prestar mais atenção. Não repetir as coisas, não fazer sem querer, a menos que seja extremamente necessário. Não fingir porque, no fim das contas, não vão gostar de você, mas do seu estúpido personagem — aí sim, é quando você vai se sentir só no meio de um monte de gente, vai ter os pés fincados na merda. E é foda pra limpar — as pessoas que verdadeiramente importam ainda vão sentir o mau cheiro.
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E toda essa demagogia minha foi só pra reafirmar que Pagu e eu temos pensado as mesmas coisas muito frequentemente, e isso me faz feliz.
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R.

2 comentários:

  1. bonito, profundo, amigo e real tudo isso, R.
    Quem nunca misantropou no próprio coração com as janelas apagadas? O problema é quando a gente estilhaça e machuca quem está por perto. Além do mais esse estado pode despertar ilusões impróprias pra certo momento.

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  2. Pequena, te entendo perfeitamente. Tirou palavras da minha boca. Boa noite.
    P.

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