18 de outubro de 2010

regra #1: nunca seja pego

Primeira parte:

Passei uma porção de horas da noite em claro. Às vezes pensava em Mia Wallace tendo uma overdose. Às vezes pensava numa gaita. E às vezes apenas encarava o nada.
Acordei cedo; olhei pela janela e notei que chovia. Eu gosto da chuva, mas não gosto de esperar ônibus embaixo dela. Embaixo dela, prefiro esperar por um disco voador ou por uma hemorragia súbita. Então não fui à escola (outra vez). Os dorminhocos estão na viagem de formatura e conteúdo educacional será a menor das preocupações dos alunos que ficaram para trás; achei melhor ficar em casa — lendo as aventuras de Supertramp eu ganho mais.

Depois de alguns minutos de volta à cama, fitanto o pé direito, levantei-me e rondei os cômodos do meu pseudolar. Aquela coisa branca que fica no meio da cozinha é chamativa, não dá pra negar; abri a porta. E olha só o que eu achei: cevada. Maravilha.
Almocei tomando uma latinha de cerveja. Agora...

A verdade: almocei tomando uma latinha de cerveja às onze e meia da manhã de uma segunda-feira quando deveria estar no meu ambiente escolar.

Segunda parte:

Minha colega de trabalho, a outra escraviária, quero dizer, estagiária, não foi trabalhar. Então, hoje, carreguei o dobro da carga de costume. Ouvi indiretas, subi e desci escadas, fiz cara feia para os advogados mais folgados, ignorei piadas a respeito do diâmetro dos órgãos genitais dos meus colegas, capenguei de sono e tédio; enfim, "edifiquei-me". Eventualmente, ouvi: "R, telefone pra você".

Diálogo (ou algo parecido):

— Alô?
— Sabe, eu comprei uma latinha de cerveja e, quando fui guardar os tomates na gaveta da geladeira, descobri que ela não está mais lá (o fato de a minha mãe esconder as latas de cerveja em lugares inapropriados, como ao lado dos tomates, é um mero detalhe). Você bebeu?
— Bebi.
— Por que?
— Bem... Me deu vontade.
— Você acha que isso está certo?
— Não havia pensado nisso. Só estava com sede.
— Sede? Tinha uma garrafa cheia de suco no seu quarto. Já é outra coisa que você não devia fazer, largar comida no quarto. Você não acha que está virando uma alcoólatra?
— Acho que não. Isso é exagero.
— Exagero é beber na segunda de manhã. Não se bebe durante semana.
— Quem disse isso?
— Não é necessário dizer. As pessoas não bebem nos dias de semana (a bendita generalização brutal outra vez).
— Ah é?
— É.
— Hm. Se é assim, me desculpe. Mas não estou virando alcoólatra.
— Quer saber? Vou ligar para o seu pai. Já não basta você ficar bebendo com ele toda sexta-feira?
— Você fala como se eu bebesse um engradado toda vez que vou pra lá.
— Não importa quanto você bebe, o que importa é que você bebe.
— Tudo bem, ligue pra ele então.
— Farei isso. Quando você chegar em casa nos falamos (o fato de minha mãe ter desligado na minha cara antes que eu pudesse responder também é um mero detalhe).

Terceira parte:

No ônibus, descobri que minha cópia original não se contentou em ligar apenas para o meu pai; ela teve de ligar para Pagu. Tudo bem, Pagu não me censura por essas banalidades.

Mas não é assim? Não há também aquelas regras do tipo "Fazer o que os pais dizem e não o que eles fazem"? O fato é que essas regras são repugnantes demais. Hiócritas demais. Ou a minha mente é que é podre demais.

Acontece que fui pega, o que mais posso fazer senão isso? (pelo menos minha mãe não sabe das latinhas de Xingu do fim de semana)

Conclusão:

É grave?

Bem, se eu pensasse que era grave, não teria aberto a latinha. Mas até aí, eu ainda estava a salvo.

É errado?

Isso aí já é relativo. Ou as pessoas (leia-se "os liberais conservadores") exageram, ou minha visão das coisas é pervertida, depravada e indecente.

De qualquer maneira, a regra número 1 é: NUNCA SEJA PEGO.

R.

2 comentários:

  1. sei bem como é isso... acontecia muito comigo.
    geralmente as latas de cerveja ficam perto dos legumes..rs

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  2. "Porque tudo que é bom é imoral, ilegal ou engorda?"
    B.

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