18 de julho de 2010

Vermelho

"Gostar de ver você sorrir
Gastar das horas para ter ver dormir
Enquanto o mundo roda em vão
Eu tomo o tempo
O velho gasta a solidão
Em meio aos pombos na praça da sé
O por do sol invade o chão do apartamento."

Um dia normal, quente e branco. Belo. Vocês teimaram em virar pessoa física, então fui com vocês, eu pessoa biológica e química. Andando naquele chão sujo e grudento, aproveitamos a bela paisagem. Tão bela quanto qualquer outra. E alí no canto, encostado na parede preta, sentado na calçada, um homem. Um de verdade, não uma formiga disfarçada. Com mãos machucadas e um rosto encardido. Um que tanto deve ter caminhado na ponta dos pés, como quem pisa nos corações, que surgiram nos cabarés. Ele levantou o mão, e a levou á boca. E aquilo que talvez fosse seu único prazer, sua alegria, um trago. Ele preencheu seus pulmões com um ar não tão sujo como o que me rodeava. Com o olhar distante. Aquele pequeno homem que como ninguém deve entender the forlorn rags of growing old. Vestido em trapos, nem suspeitou que certa garota o observava. Que durante os dois segundos que ela o viu, quis ser ele, com aquele cigarro, quis ser aquela fumaça para entrar em sua cabeça e compreende-la como nem mesmo ele deve fazer.
Aquele homem nunca mais foi visto, e talvez nunca tenha sido. Mas ela o vê ainda, e como no momento, ainda gostaria de ser aquela fumaça assassina para correr por ele e ver o mundo pelos pequenos olhos amarelados de um homem comum, sentado na praça da sé, com um cigarro barato e o corpo cansado. Ver que tudo pode retroceder e aquele homem pode ser eu, no fundo da alma a solidão, e um frio que suplica o aconchego.

Jackie


Sentimentalismo e "poetismo" demais, mas esta valendo.
[Vermelho, Vanessa da mata]
A cor mais bonita.

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